A cineasta americana Sofia Coppola, filha do conceituado Francis Ford Coppola, tece, em seu segundo longa - “Encontros e Desencontros” (Lost in Traslation) - histórias que entremeiam dramas pós-modernos, como a solidão e a sensação de não pertencimento a lugar nenhum, com situações cômicas, como o choque cultural e o frenesi do Japão contemporâneo.
Os protagonistas do filme são Bob Harris ( Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson), dois americanos que se vêem obrigados a passar uma semana no Japão - ele por trabalho, ela para acompanhar o marido - sendo que não conseguem compreender e nem se adaptar à cultura japonesa, sobretudo à língua, reforçando a idéia do deslocamento cultural e a sensação que ambos já carregam em si: de estarem sozinhos na multidão. Numa espécie de desencontro consigo mesmo.
Ambos são envoltos, nas primeiras seqüências do longa, por uma causticante sensação de tédio, que captura o telespectador, de tal maneira, que se tem a impressão que o tempo não passa ou que os protagonistas já estão há meses no Japão.
Esse tédio, aliado à ausência de algo lhes pareça familiar, acaba por aproximá-los (representado, no filme, por uma rápida troca de olhares no bar do hotel), e, a partir desse encontro, começam a desenvolver uma ambígua e descontraída relação, na qual amizade e amor acabam se confundindo.
A dualidade de sentimentos é tamanha quem nenhum dos dois consegue definir o que sente, numa confusão que mistura, por exemplo, ciúme (como na cena no restaurante na qual Charlotte está evidentemente enciumada por Bob ter dormido com outra mulher) e relação de proteção entre um pai e uma filha (ilustrado pela tomada em que dormem na mesma cama, Charlotte em posição fetal e Bob em uma posição como se quisesse mostrar força e capacidade para defendê-la).
Na verdade, o que Sofia quer não é narrar mais uma história de amor açucarada, e este é seu trunfo. Ela aproxima seus personagens com o intuito de um trazer aquilo que falta no outro, numa complementaridade de sentimentos e angústias. Isso é tão marcante que nunca se sabe se eles têm uma profunda amizade despretensiosa e fraternal ou se nutrem, de fato, amor “de um homem por uma mulher”. Ou seja, Sofia traz à tona aquilo que há muito se sabe: ninguém consegue se estabelecer como um ser humano sozinho.
Sofia retrata, também, problemas universais da humanidade, que atingem pessoas independentemente da idade, sexo... Para isso, se vale da construção desses dois personagens aparentemente tão diferentes - um homem maduro e uma jovem recém-casada - que sofrem dos mesmos males: a solidão e a incomunicabilidade, que acabam por desestabilizar suas relações interpessoais, inclusive no que diz respeito ao ambiente conjugal.
Essa solidão e a incomunicabilidade são metaforizadas pela diretora através da própria cidade/cenário do filme – Tóquio - lugar onde os personagens vivem em meio à loucura e a intensa movimentação do povo japonês e, mesmo assim, não se sentem confortados, sobretudo pela sensação de desterro e impotência em face da incompreensível língua - elemento fundamental para sensação de pertencimento a um povo e elo essencial para o estabelecimento das relações entre os homens (lembremos da história da Torre de Babel).
Mas é importante ressaltar que os dramas dos personagens não surgem somente em função da cidade ou da língua, isso é apenas uma metáfora que a diretora utiliza para exteriorizar aquilo que Charlotte e Bob já tinham internalizados em si, ou seja, ela se vale da ambiência exterior para retratar o que ambos já carregavam: confusão, solidão, tédio, dramas sentimentais, impessoalidade, indiferença, etc. Exemplo disso são as cenas em que ela constrói situações em que podemos sem incomunicáveis mesmo quando falamos a mesma língua, vide as “conversas” entre Charlotte e seu marido ou entre Bob e a esposa, nas quais o ouvir não é praticado.
À parte dessas análises dos sentimentos e relações humanas, Sofia aborda a problemática do globalismo cultural, ao mostrar um Japão que cada vez mais se ocidentaliza e, ao mesmo tempo, luta por manter suas tradições e costumes (cena dos prédios multicoloridos de Tóquio/ cenas do templo em Kyoto, por exemplo). Além disso, a própria questão do hibridismo cultural é retratada, pois se mostra uma fusão entre tradições e hábitos novos e velhos, que coabitam o mesmo espaço de modo a fundirem-se e criarem uma terceira coisa, como propunha Nestor Clanclini (exemplo: cena em que o jovem de Tóquio brinca num vídeo game que mistura os clássico tambores japonês com a tecnologia contemporânea).
Vê-se, também, nessa seara de tradição e contempoaneidade, entre resistência e homogeneização, a existência de dois tipos de mulheres japonesas: aquela cativa às antigas tradições (mulher do templo de Kyoto) e a japonesa moderna e liberal (striper do bar).
Enfim, o filme do Sofia é, evidentemente, um tratado sobre conflitos e feridas contemporâneas, regido pelo estranho paradoxo de se fazer parte de uma aldeia global que aproxima e isola a todos ao mesmo tempo, num eterno fluxo de encontros e desencontros.
Os protagonistas do filme são Bob Harris ( Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson), dois americanos que se vêem obrigados a passar uma semana no Japão - ele por trabalho, ela para acompanhar o marido - sendo que não conseguem compreender e nem se adaptar à cultura japonesa, sobretudo à língua, reforçando a idéia do deslocamento cultural e a sensação que ambos já carregam em si: de estarem sozinhos na multidão. Numa espécie de desencontro consigo mesmo.
Ambos são envoltos, nas primeiras seqüências do longa, por uma causticante sensação de tédio, que captura o telespectador, de tal maneira, que se tem a impressão que o tempo não passa ou que os protagonistas já estão há meses no Japão.
Esse tédio, aliado à ausência de algo lhes pareça familiar, acaba por aproximá-los (representado, no filme, por uma rápida troca de olhares no bar do hotel), e, a partir desse encontro, começam a desenvolver uma ambígua e descontraída relação, na qual amizade e amor acabam se confundindo.
A dualidade de sentimentos é tamanha quem nenhum dos dois consegue definir o que sente, numa confusão que mistura, por exemplo, ciúme (como na cena no restaurante na qual Charlotte está evidentemente enciumada por Bob ter dormido com outra mulher) e relação de proteção entre um pai e uma filha (ilustrado pela tomada em que dormem na mesma cama, Charlotte em posição fetal e Bob em uma posição como se quisesse mostrar força e capacidade para defendê-la).
Na verdade, o que Sofia quer não é narrar mais uma história de amor açucarada, e este é seu trunfo. Ela aproxima seus personagens com o intuito de um trazer aquilo que falta no outro, numa complementaridade de sentimentos e angústias. Isso é tão marcante que nunca se sabe se eles têm uma profunda amizade despretensiosa e fraternal ou se nutrem, de fato, amor “de um homem por uma mulher”. Ou seja, Sofia traz à tona aquilo que há muito se sabe: ninguém consegue se estabelecer como um ser humano sozinho.
Sofia retrata, também, problemas universais da humanidade, que atingem pessoas independentemente da idade, sexo... Para isso, se vale da construção desses dois personagens aparentemente tão diferentes - um homem maduro e uma jovem recém-casada - que sofrem dos mesmos males: a solidão e a incomunicabilidade, que acabam por desestabilizar suas relações interpessoais, inclusive no que diz respeito ao ambiente conjugal.
Essa solidão e a incomunicabilidade são metaforizadas pela diretora através da própria cidade/cenário do filme – Tóquio - lugar onde os personagens vivem em meio à loucura e a intensa movimentação do povo japonês e, mesmo assim, não se sentem confortados, sobretudo pela sensação de desterro e impotência em face da incompreensível língua - elemento fundamental para sensação de pertencimento a um povo e elo essencial para o estabelecimento das relações entre os homens (lembremos da história da Torre de Babel).
Mas é importante ressaltar que os dramas dos personagens não surgem somente em função da cidade ou da língua, isso é apenas uma metáfora que a diretora utiliza para exteriorizar aquilo que Charlotte e Bob já tinham internalizados em si, ou seja, ela se vale da ambiência exterior para retratar o que ambos já carregavam: confusão, solidão, tédio, dramas sentimentais, impessoalidade, indiferença, etc. Exemplo disso são as cenas em que ela constrói situações em que podemos sem incomunicáveis mesmo quando falamos a mesma língua, vide as “conversas” entre Charlotte e seu marido ou entre Bob e a esposa, nas quais o ouvir não é praticado.
À parte dessas análises dos sentimentos e relações humanas, Sofia aborda a problemática do globalismo cultural, ao mostrar um Japão que cada vez mais se ocidentaliza e, ao mesmo tempo, luta por manter suas tradições e costumes (cena dos prédios multicoloridos de Tóquio/ cenas do templo em Kyoto, por exemplo). Além disso, a própria questão do hibridismo cultural é retratada, pois se mostra uma fusão entre tradições e hábitos novos e velhos, que coabitam o mesmo espaço de modo a fundirem-se e criarem uma terceira coisa, como propunha Nestor Clanclini (exemplo: cena em que o jovem de Tóquio brinca num vídeo game que mistura os clássico tambores japonês com a tecnologia contemporânea).
Vê-se, também, nessa seara de tradição e contempoaneidade, entre resistência e homogeneização, a existência de dois tipos de mulheres japonesas: aquela cativa às antigas tradições (mulher do templo de Kyoto) e a japonesa moderna e liberal (striper do bar).
Enfim, o filme do Sofia é, evidentemente, um tratado sobre conflitos e feridas contemporâneas, regido pelo estranho paradoxo de se fazer parte de uma aldeia global que aproxima e isola a todos ao mesmo tempo, num eterno fluxo de encontros e desencontros.