A discussão sobre uma possível reificação humana, iniciada com a revolução industrial, debatida por grandes intelectuais - de Chaplin a José Saramago –, até hoje encontra espaço na sociedade. Isso porque, a possível mecanização das relações e a subjugação do homem em face do capital, ainda são temas recorrentes e se adensam à medida que a artificialização high-tech avança.
Mark Achbar e Jennifer Abbout, no documentário The Corporation, também trabalham nessa perspectiva crítica em relação à situação humana e o capital. Diria mais, na verdade mergulham profundamente no impacto que tal relação tem sobre a Terra.
No entanto, em The Corporation, numa ousada análise, retira-se o foco do homem e sua objetificação e joga-se para cima das corporações, que, ironicamente, estariam sofrendo um processo inverso: de “humanização”. Relata-se uma espécie de concessão de vida às benditas corporações (Frankstein?) e, reflexivamente, acaba-se retratando a situação humana de objeto manipulável por interesses individuais, como mera massa de manobra.
Cabe aqui logo se fazer a ponderação de que, quando se fala em “humanização” da corporação, não se intui dizer que ela se torna mais humanas, (mais preocupada com a sociedade). Na verdade, no contexto do documentário, humanizar é usado para afirmar que, paulatinamente, as corporações estão assumindo caráter de organismos vivos, prestes a alçar vôos, independentemente de quem está no seu comando. Como afirma o jornalista Tiago Soares: “Por conta disso, apesar das posições individuais de seus fundadores, e mesmo após a morte destes, uma corporação segue em sua existência, operando como um ‘organismo’ autônomo em busca de um objetivo bastante específico - o lucro”.
Achbar e Abbout iniciam a argumentação a partir de uma contextualização histórica de corporação, mostrando como, inicialmente, ela estava incumbida de solucionar certos problemas da vida na urbe e, posteriormente, subverteu essa premissa dando lugar aos imperativos do interesse empresarial.
A partir daí, verifica-se uma chuva de exemplos, colagens de vídeos, propagandas, casos reais, depoimentos, que visam a comprovar a tentativa megalomaníaca das corporações de terem o controle sobre todas as esferas da vida pessoal, seja induzindo consumidores, seja construindo verdades e crenças, seja intervindo em questões políticas de ordem global (vide o trecho do filme em que se mostra a reunião de autoridades mundiais e os grandes empresários).
A corporação intui, com isso, resvalar seus interesses próprios, ou seja, o documentário mostra a crueldade de submeter o mundo à vontade de poucos.
Aqui é inevitável não fazer um paralelo ao ideário habermasiano que, em “Mudança Estrutural na Esfera Pública”, narra a invasão do senso de público pelas opiniões e valores privados. Partindo desse pressuposto, Habermas, enumera uma série de instrumentos que são utilizados, como a pesquisa de opinião, para se manipular a “suposta opinião publica” e, assim, se criar uma condição favorável à aclamação da vontade dessa classe ascendente na revolução burguesa.
Em suma, os manipuladores são as corporações, que usam de sua influência midiática, política e propagandística para criar uma realidade onírica (vide a metáfora ácida no documentário quando se mostra a vila da Disney) e assim manter a população do lado “certo” da opinião e escolha, numa aclamação dos valores do interesse burguês (corporativo).
A ironia prossegue ao mostrar relatos de donos de empresas declarando seu descaso por questões essencias, como a condição degradante de trabalho a qual algumas corporações submetem seus funcionários ou a questão ambiental. A exemplo disso temos a esdrúxula conversa entre Michel Moore e o dono da Nike, que nunca conheceu suas fábricas na Indonésia e nem fazia questão de visitar o país, preferindo assistir ao campeonato de tênis australiano. Ou o caso da fábrica de roupas que revestia parte de suas vendas a causas sociais nos EUA e, no entanto, mantinha mão de obras infantil em suas fábricas na América Central.
Nem a mídia passa ilesa pelos olhares incisivos dos diretores que, desmistificado-se a idéia de portadora da verdade e de fiel representante do ideário democrático, é retratada ora como instrumento da alienação das massas (exemplo: propaganda usada para vender produtos a crianças), ora como impotente arma de denúncia em face dos interesses das corporações (exemplo: caso FOX e MONSANTO), fazendo-se questionar até a alcunha de 4° poder.
Aqui há um forte paralelo com Giovani Sartori, pensador italiano que analisa a degeneração da simbolização humana à medida que cresce a sociedade essencialmente televisiva.
Sartori, afirma que a TV, por não estimular a criticidade humana, acaba por nos transformar em molóides, passivos a informação que nos é incutida. Dessa forma, seriamos alvos fáceis para a propaganda corporativa (subentenda-se manipulação corporativa).
Toda essa caracterização negativa do ente “corporação” é levada a radicalização quando se busca traçar um perfil psicológico das corporações, o que é uma contundente crítica a essa tentativa de personificação das corporações (as ditas pessoas jurídicas).
Nesse perfil, chega-se a conclusão que as corporações são psicopatas, incapazes de sentirem remorso, pena, culpa ou a crueldade de suas ações, tudo claramente ilustrado no documentário com uma sucessiva colagem de vídeos.
Resumindo, The Corporation é um documentário que esteticamente se vale da colagem e da ironia para aprofundar discussões sobre a contemporaneidade, na qual o mundo do sistema (usando os termos de Jürgen Habermas) se utiliza de todas as estratégias possíveis para sufocar o mundo da vida, mesmo que isso custe o cerceamento do livre pensar. Corporation joga sal nas veias abertas da dita “aldeia global”.
Mark Achbar e Jennifer Abbout, no documentário The Corporation, também trabalham nessa perspectiva crítica em relação à situação humana e o capital. Diria mais, na verdade mergulham profundamente no impacto que tal relação tem sobre a Terra.
No entanto, em The Corporation, numa ousada análise, retira-se o foco do homem e sua objetificação e joga-se para cima das corporações, que, ironicamente, estariam sofrendo um processo inverso: de “humanização”. Relata-se uma espécie de concessão de vida às benditas corporações (Frankstein?) e, reflexivamente, acaba-se retratando a situação humana de objeto manipulável por interesses individuais, como mera massa de manobra.
Cabe aqui logo se fazer a ponderação de que, quando se fala em “humanização” da corporação, não se intui dizer que ela se torna mais humanas, (mais preocupada com a sociedade). Na verdade, no contexto do documentário, humanizar é usado para afirmar que, paulatinamente, as corporações estão assumindo caráter de organismos vivos, prestes a alçar vôos, independentemente de quem está no seu comando. Como afirma o jornalista Tiago Soares: “Por conta disso, apesar das posições individuais de seus fundadores, e mesmo após a morte destes, uma corporação segue em sua existência, operando como um ‘organismo’ autônomo em busca de um objetivo bastante específico - o lucro”.
Achbar e Abbout iniciam a argumentação a partir de uma contextualização histórica de corporação, mostrando como, inicialmente, ela estava incumbida de solucionar certos problemas da vida na urbe e, posteriormente, subverteu essa premissa dando lugar aos imperativos do interesse empresarial.
A partir daí, verifica-se uma chuva de exemplos, colagens de vídeos, propagandas, casos reais, depoimentos, que visam a comprovar a tentativa megalomaníaca das corporações de terem o controle sobre todas as esferas da vida pessoal, seja induzindo consumidores, seja construindo verdades e crenças, seja intervindo em questões políticas de ordem global (vide o trecho do filme em que se mostra a reunião de autoridades mundiais e os grandes empresários).
A corporação intui, com isso, resvalar seus interesses próprios, ou seja, o documentário mostra a crueldade de submeter o mundo à vontade de poucos.
Aqui é inevitável não fazer um paralelo ao ideário habermasiano que, em “Mudança Estrutural na Esfera Pública”, narra a invasão do senso de público pelas opiniões e valores privados. Partindo desse pressuposto, Habermas, enumera uma série de instrumentos que são utilizados, como a pesquisa de opinião, para se manipular a “suposta opinião publica” e, assim, se criar uma condição favorável à aclamação da vontade dessa classe ascendente na revolução burguesa.
Em suma, os manipuladores são as corporações, que usam de sua influência midiática, política e propagandística para criar uma realidade onírica (vide a metáfora ácida no documentário quando se mostra a vila da Disney) e assim manter a população do lado “certo” da opinião e escolha, numa aclamação dos valores do interesse burguês (corporativo).
A ironia prossegue ao mostrar relatos de donos de empresas declarando seu descaso por questões essencias, como a condição degradante de trabalho a qual algumas corporações submetem seus funcionários ou a questão ambiental. A exemplo disso temos a esdrúxula conversa entre Michel Moore e o dono da Nike, que nunca conheceu suas fábricas na Indonésia e nem fazia questão de visitar o país, preferindo assistir ao campeonato de tênis australiano. Ou o caso da fábrica de roupas que revestia parte de suas vendas a causas sociais nos EUA e, no entanto, mantinha mão de obras infantil em suas fábricas na América Central.
Nem a mídia passa ilesa pelos olhares incisivos dos diretores que, desmistificado-se a idéia de portadora da verdade e de fiel representante do ideário democrático, é retratada ora como instrumento da alienação das massas (exemplo: propaganda usada para vender produtos a crianças), ora como impotente arma de denúncia em face dos interesses das corporações (exemplo: caso FOX e MONSANTO), fazendo-se questionar até a alcunha de 4° poder.
Aqui há um forte paralelo com Giovani Sartori, pensador italiano que analisa a degeneração da simbolização humana à medida que cresce a sociedade essencialmente televisiva.
Sartori, afirma que a TV, por não estimular a criticidade humana, acaba por nos transformar em molóides, passivos a informação que nos é incutida. Dessa forma, seriamos alvos fáceis para a propaganda corporativa (subentenda-se manipulação corporativa).
Toda essa caracterização negativa do ente “corporação” é levada a radicalização quando se busca traçar um perfil psicológico das corporações, o que é uma contundente crítica a essa tentativa de personificação das corporações (as ditas pessoas jurídicas).
Nesse perfil, chega-se a conclusão que as corporações são psicopatas, incapazes de sentirem remorso, pena, culpa ou a crueldade de suas ações, tudo claramente ilustrado no documentário com uma sucessiva colagem de vídeos.
Resumindo, The Corporation é um documentário que esteticamente se vale da colagem e da ironia para aprofundar discussões sobre a contemporaneidade, na qual o mundo do sistema (usando os termos de Jürgen Habermas) se utiliza de todas as estratégias possíveis para sufocar o mundo da vida, mesmo que isso custe o cerceamento do livre pensar. Corporation joga sal nas veias abertas da dita “aldeia global”.
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