terça-feira, 6 de maio de 2008

"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá": um caleidoscópio da realidade contemporânea

Escrito por Diego Santos
O mito da aldeia global - massificado como a idéia de redenção advinda da quebra de barreiras e superação das diferenças entre os diversos Estados - mostra sua faceta cruel (ou real) no documentário “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá” que, ao se valer da perspectiva crítica do geógrafo Milton Santos, revela a América Latina globalizada, ou melhor dizendo, a América Latina subjugada pelo modelo de globalização vigente.
Sílvio Tendler, ao conceber a idéia desse documentário, deve ter objetivado lançar mão de todas as suas angústias sobre o confuso mundo contemporâneo, pois o resultado que obteve foi um grande quebra-cabeça de imagens, dados, frases, sons, opiniões e críticas socias que submergem o telespectador numa profusão de reflexões sobre tudo e todos ao mesmo tempo, quase que numa paranóia delirante sobre a contemporaneidade, o que é reforçado pela forma de montagem do enredo: fragmentária, dividida em mini-capítulos.
É essa estética fragmentada - que acaba funcionando como metáfora para o próprio panorama global, mergulhado em seu caos de construções e desconstruções instantâneas (entre a completude e a pulverização) – que permite mostrar a vida como ela: a fome no mundo, a rebeldia latino-americana, a exploração humana, a escassez de água, o multiculturalismo, o papel da mídia na atualidade, o hibridismo cultural, entre muitas outras questões, todas encadeadas e costuradas por uma linha reflexiva sobre a prática predatória imposta pela globalização.
No entanto, apesar do que fora até então escrito nos induzir a idéia de possível irracionalidade do filme, “Encontro com Milton Santos...” é uma crítica contundente e bastante racional sobre o mito da aldeia global, que, para além da perspectiva utópica de universo sem fronteiras ou restrições, mostra-se restrito (ou mesmo benevolente) a poucos afortunados e atroz para muitos, sobretudo no que concerne aos países pobres, vítimas, nas palavras do próprio Milton, do globalitarismo.
Ou seja, Sílvio orquestra toda essa miscelânea de dados de tal forma que o resultado final é uma perspectiva geral sobre uma globalização “vista com olhos latino-americanos”, como o próprio título sugere. E, contrariamente ao que se pode pensar, ao fim se tem uma perspectiva esperançosa para o caos social, relevando o grande trunfo do diretor, que, para além de fáceis críticas à realidade, mostra o que pode ser feito e o que vem sendo tentado para alcançamos aquilo que se chama no filme de terceiro mundo, ou seja, o mundo que pode vir a ser.

E o Globalitarismo?

Globalitarismo é um termo cunhado no contexto do próprio documentário que tenciona expressar a predação que o processo de globalização acabou por impor à América Latina e a demais países pobres/em desenvolvimento, sobretudo em função de ter contribuído para a subjugação e dependência dessas nações em relação às grandes economias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessantíssimo o olhar de um jornalista sobre o documentário do Milto, eu, como aspirante a geografo, tive um olhar um pouco diferente, não menos crítico.

Gostei

e não deixemos cair no esquecimento suas riquíssimas interpretações e teorizações da realidade, ainda mais a nossa!

Abraços

Anônimo disse...

=]